BlogBlogs.Com.Br

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Pela passagem de uma dor

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010






 Em dado momento sente uma dor profunda no lado direito do peito, dor de amor ou outra coisa. Não sabe explicar. Como o crepúsculo é lindo, da janela aberta da sua quitinete admira com comoção infantil. Barulhos de carros circulando na rua, todos eles com suas rodas liga – leve, pneus gastos cheirando a queimado, provavelmente a esta hora são as pessoas retornando para casa depois de um longo dia de trabalho. Observa a sua volta, fazendo um tour visual na sua quitinete. Primeira coisa que mira são as paredes hoje gastas e cheias de remendos, parecendo cheirar a mofo, refletindo a tristeza entranhada em sua alma. Houve um dia, no qual estas mesmas paredes maltratadas de hoje eram jovens paredes novíssimas em folha e refletiam outras coisas um pouco mais positivas do que agora, tempos de abastança sentimental, amor incondicional, sorrisos estampados, as auroras de cada dia vinham como afago no rosto, sopro de paixão no coração. Hoje teria de se contentar com uma aguda dor no coração, que por diabos, não queria sucumbir. Detinha o olhar na sua coleção de discos, com infoque especial para os do Bob Dylan, como eram bons os tempos que se gastava, aqui mesmo sentado neste sofá, sorvendo um gole de vinho numa audição coletiva, a qual lhe parecia infinita. Aqueles foram tempos conturbados, mas gostosos a valer, tempos de amizade verdadeira, de abraços verdadeiros, de esperança, tempos em que a derrota era o estimulo maior para continuar e derrotar o inimigo fosse quem fosse este inimigo, se tivesse que resumir em uma palavra àquela saudosa época, diria ESPERANÇA. Tenta arranjar uma desculpa para esta apatia abrupta pelas relações humanas, físicas ou sentimentais era tudo um imenso desestimulador vazio, sem crenças de qualquer ordem fossem religiosas, políticas, sentimentais, apenas aquele perturbador e ao mesmo tempo confortável vazio. Sentia-se como uma alegoria estática e na sua volta as pessoas correndo pra la e pra cá nas suas conturbadas vidinhas normais. Talvez fosse isto que detestasse: este padrão retilíneo e sem desvios. Caminha até a velha vitrola, fez questão de trazê-la quando sua mãe morreu, pois gostava de ouvir musica em velhas vitrolas justamente pelo som que era mais nítido e também porque enxergava certo charme nisto. Escolhe um disco do Vam Morrison. Mais precisamente Astral weeks, emocionava se com o timbre da voz dele. Neste momento lhe causa certo riso esta situação devido à discrepância entre sua vida neste momento e as musicas melodiosas do Vam Morrison. Como a vida muitas vezes se contradiz, talvez seja porque todo ser humano algum dia em toda sua existência se contradiga, se refere a contradições sentimentais, equívocos amorosos, etc. Agora esta fitando naquela mesma parede velha uma réplica de uma das pinturas do Vam gog, não compreende o motivo pelo qual aquele quadro esta ali, disposto daquela maneira, não se lembrava quem nem quando haviam colocado ali. Quem sabe teria sido nos velhos tempos, nos bons e velhos tempos. Enquanto ocorre toda esta divagação, que talvez fossem lamurias de um louco solitário na sua bolha, a melodia das canções do Van Morrison o fazia chegar à plenitude da tristeza. Agora percebia o quanto faltava um toque feminino na decoração da sua quitinete. Principalmente nos detalhes que para a maior parte dos homens passam despercebidos, um toque feminino era sempre bem vindo, faltava mais do que isto, um perfume feminino que enchesse o ambiente com sua doçura e leveza, abrilhantando o ambiente. Sempre idolatrou as mulheres, estes seres cândidos e ao mesmo tempo complexos que fazem rir e chorar, por vezes promovem a completa mistura de todos os sentimentos ao mesmo tempo. Formando um híbrido de amor e ódio, de sorrisos e choros.
Agora era apenas aguardar o derradeiro instante onde tudo se transformaria o belo ficaria feio, a tristeza se converteria em felicidade e as relações seriam verdadeiras sem aquela falsidade pedante a que todos estamos fadados. Em instantes que podem ser segundos ou anos tudo será melhor. Todos os desejos mais íntimos e estranhos seriam passiveis de concretização. Enquanto este instante não vinha ficava transformando sua tristeza em poesia, era preciso exorcizar seus demônios que insistiam em permanecer enclausurados.
Já era noite e as estrelas lhe faziam companhia seus olhos foram cerrando lentamente até suas vistas encontrarem a completa escuridão e a dor no peito o abandonar por inteiro.

0 comentários:

Postar um comentário

Seja bem vindo, puxe uma cadeira e dê sua opinião.

 
FICCIONES ◄Design by Pocket, BlogBulk Blogger Templates